Já desde o tempo de noviço, o beato José de Anchieta demonstrou um grande amor ao Santíssimo Sacramento, por dia ajudava de oito a dez missas. Depois quando foi provincial sempre que podia ajudava as missas de joelhos. Os indígenas com o seu exemplo aprenderam a amar ao Santíssimo Sacramento. Esta é a única poesia em português autografada pelo autor.
Esta poesia de 188 versos é uma das suas composições mais belas pela ingenuidade e singeleza, que chegam a ser surpreendentes sabendo-se escritas por um humanista de sua categoria . Está poesia pode ser divido em três partes que vão crescendo: oh que pão, que comida/ à central que começa/Ó entranhas piedosas/ v.64 e a ultima parte que inicia: /Ó mansíssimo Cordeiro v.133.
O apóstolo do Brasil faz uma catequese sobre a Eucaristia, utilizando certa forma a imagem da prática da antropofagia realizada por algumas tribos indígenas. Abaixo, algumas estrofes do poema:
Oh que pão, que comida,
Oh que divino manjar
Se nos dá no santo altar
cada dia!
.................................
Vinde pobres pecadores,
a "comer".
Que este manjar tudo gasta
porque é fogo gastador,
que, com seu divino ardor,
tudo abrasa.
Se a "carne do irmão", para o índio, o “antropófago do mato”, visava adquirir "as virtudes do comido" numa espantosa comunhão pelo sangue , Anchieta falava em "invenção de manjar", em "comida", em "vianda" (saborosa), em "vos comer", para que os seus catecúmenos, entre os quais, e principalmente, os índios, comessem a Eucaristia que era a carne de Cristo. Só mesmo assim, falando em vianda e bocado gostoso, poderia o taumaturgo convencer o selvagem que, por seu lado, pensava ser o batismo um ato de feitiçaria.
Todo al é desatino
se não comer tal vianda
com que a alma sempre anda
satisfeita.
Para vosso amor plantar
Dentro em vosso coração
Achastes tal invenção
de manjar.
Anchieta faz um jogo com as palavras usa: “manjar na estrofe acima; "comer", "comendo", "comida", "vianda", "bocado que tem todos os sabores" etc. O "vivo em vós, a vós comendo" não parece um caso de santa antropofagia? Creio não ser pecado chamá-lo de suave "antropófago" (espiritual).
Oh que divino bocado
que tem todos os sabores.
Pois não vivo sem comer,
Como a vós em vós vivendo.
Vivo em vós, a vós comendo,
doce amor
O padre canário faz uma relação entre as virtudes teologais: fé, esperança e caridade e o Santíssimo Sacramento. A Eucaristia como fonte para crescer nestas virtudes.
Aqui se refina a fé,
pois debaixo do que vemos,
estar Deus e homem cremos
sem mudança
Acrescenta-se a esperança,
pois na terá nos é dado
quanto nos céus guardado
nos está
A caridade, que lá
há de ser perfeiçoada,
deste pão é confirmada
em pureza.
Além da riqueza doutrinária são muitas alusões a textos da Sagrada Escritura, cito algumas:
Este dá vida imortal,
Vinde pobres pecadores,
a comer!
deixado para a memória
Ó mansíssimo Cordeiro
O “antropófago do mato” julgava adquirir, como já foi dito, as "virtudes" do "comido". Não lhe seria difícil, em vez, e graças aos gabos de Anchieta, comer a "vianda" que era a hóstia (manjar) e com isso adquirir as forças sobrenaturais da carne de Cristo. Anchieta não se limitava a substituir uma antropofagia por outra, a do "ritual" aborígine pela do "ritual" católico. Praticava, ele mesmo, por assim dizer, a sua doce antropofagia espiritual que era transformar um homem em outro, ou seja, fazer do homem (o índio) um produto do próprio homem (pela catequese).
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